Abuso infantil

Estudos feitos nos EUA mostraram como o abuso infantil pode ser mais frequente do que imaginamos. No Brasil não temos estatisticas prontas, mas em minha experiência clinica pude perceber que o abuso não escolhe classe social, região ou condição financeira.

Seqüelas
As sequelas deixadas pelos abusadores podem ser graves: problemas sociais e psiquiátricos, problemas de comportamento, como agressão ou comportamento indevidamente sexualizados durante a infância, abuso de substancias, disfunção sexual na idade adulta, depressão, tendências suicidas, medo, etc.
Auto Culpa
Pensamento de auto-responsabilidade são muito comuns. Algumas  crianças sentem que  participaram de alguma forma se oferecendo para que o abuso pudesse acontecer, e por isso nem sempre denunciam o abusador.  Mesmo quando adultas podem manter sentimentos de ser diferente dos outros, tem menos confiança interpessoal, manter a crença de que o mundo é um lugar perigoso, visão negativa da sexualidade e imagem corporal negativa.

O abusador é sempre alguém próximo à criança?

Nem sempre, já recebi relatos de pessoas que foram abusadas por estranhos que passavam pela rua, foram embora e nunca mais foram vistos. Mas, pelos muitos relatos que recebo em minha clínica é muito mais comum um parente próximo, ou padrasto aparecer como o abusador e nestes casos os sintomas são muito mais graves, o sofrimento é muito maior devido, principalmente, à freqüência com que o abuso se repetiu.

A criança percebe que isso é errado?

Nem sempre. O corpo reage ao estímulo, a criança muitas vezes procura, inocentemente aquele prazer, que num primeiro momento parece adequado pois lhe foi ensinado a respeitar e atender aos adultos.
Normalmente a pessoa só se dá conta de que aquilo foi um ato agressivo depois que recebe as informações do ambiente e descobre o porque dela se sentir tão mal e desconfortável com o abuso. Pois até então seu sentimento era de confusão, muita confusão. Esse momento, normalmente, se dá na adolescência.

Porque os abusadores fazem isso?

Muitas vezes é devido a fortes disfunções comportamentais e emocionais principalmente no campo da sexualidade. Podem ser pessoas com forte deficiência de empatia, incapazes de perceber o quanto está prejudicando outra pessoa. Muitas vezes eles tem pensamentos distorcidos de que a criança está "querendo" pois percebe  que o corpo da criança responde, mas sua mente oferece uma resposta negativa muito mais significativa.
O abusadores mais comuns são homens ou mulheres?
Existem casos de mulheres abusadoras, mas normalmente o abuso perpetrado por uma mulher é o abuso físico (bater, espancar a criança), e não sexual.

O que fazer quando a mãe, ou alguém, desconfia de sua criança estar sendo abusada?

Deve-se imediatamente conversar com essa criança. Validar seus sentimentos, faze-la sentir-se segura para contar o que está acontecendo. Nunca faça perguntas dirigidas, não faça perguntas para que ela responda apenas SIM ou NÂO, pois isso pode implantar memórias falsas, você pode induzir imagens mentais de situações que não ocorreram e fazer com que a criança acredite que vivenciou estas cenas.
Em caso de dúvida quanto ao procedimento com a criança leve-a imediatamente à um psicólogo infantil. Mas assegure-se que este psicólogo tem especialização em atendimento infantil, pois toda a comunicação com crianças é realizada por meios específicos, muito diferente da realizada com adultos.

Como e por que ocorre o abuso sexual?

Percebemos na área clinica que o abuso sexual ocorre em maior quantidade dentro das famílias, muitas vezes o padrasto mas também tios ou o próprio pai. Acredito que isso se deve a um conceito, errado, de propriedade da criança. Este homem crê que como seu cuidador e provedor teria “direitos” que vão além dos aceitos pela sociedade e além da promoção do bem estar emocional da criança.
Por outro lado também percebemos que o homem que abusou de uma criança de forma geral tem menor controle sobre seus impulsos sexuais e quando se vê diante de um ser indefeso acaba por iniciar distorções de pensamento acreditando que ela “quer” um contato intimo – quando na realidade a criança não está pronta e nem possui ainda conceitos de sexualidade.

Em que classes sociais esses casos de abuso sexual mais ocorrem no Brasil?

Em todos. Mas me parece que as classes mais altas vão procurar ajuda nos psicólogos – para que esta criança seja “recuperada” , mas mantem a vergonha em sigilo, e os menos favorecidos vão procurar ajuda na policia para que este homem seja punido.

Como funciona o sentimento de Auto Culpa da vítima, após ser abusada sexualmente, dentro de seu próprio lar? Como um profissional da área de psicologia age nestas situações?

No momento do abuso a criança não tem noção do que está acontecendo, pois sempre houve adultos tocando suas partes intimas na hora da troca da fralda ou banho. Para criança tudo é desprovido de maldade e demora para ela perceber intenções maliciosas que diferenciam o toque carinhoso da mãe que cuida de sua higiene. A culpa costuma ocorrer mais tarde quando ela percebe, por informações recebidas em sua educação, do que seria um toque correto e do que não deve ocorrer, passando então a lembrar de seu comportamento passivo e por isso se considera causadora ou participante ativa do abuso – e com isso culpa, muita culpa.

Os pais e/ou familiares próximos á vítima, não acreditam nas queixas ou fingem que não acreditam? O que é considerado negligência “familiar” nos casos de abuso e por que os familiares sentem medo de denunciar este crime?

Negligencia :
- não levar em consideração medos sem explicação que as crianças demostram diante de algum adulto
- encobrir o ocorrido por medo da reação das pessoas
- encobrir por vergonha de levar a publico o tipo de homem que permitiu frequentar sua casa.
- não acreditar quando a criança conta
- considerar que a criança “se insinuou” para o adulto, culpando-a.

Pode-se afirmar que há também uma negligência por parte do Estado?

Não conheço as ações do Estado. Não tenho muito conhecimento do quanto este assunto é levado a serio quando denunciado nas delegacias, mas sei que o atendimento psicológico gratuito às crianças não é algo que se consegue com facilidade. Talvez devesse haver mais companhas para orientar as famílias no sentido de prevenção e como agir em casos de abuso.

Com sua experiência e conhecimentos á frente de serviços psicológicos, deve ter muitos casos que lhe marcaram de alguma forma. Quais aqueles que mais lhe impressionaram, e como lidou com a situação?

Não há nenhum em especial mas sempre me intrigou o fato de que como psicóloga fui muitas vezes a primeira pessoa a saber do ocorrido e até mesmo a única.

TEXTO EXTRAÍDO NA ÍNTEGRA DO SITE: http://www.marisapsicologa.com.br/abuso-infantil.html
RESPEITANDO O DIREITO AUTORAIS E INFORMANDO A AUTORIA.
Entrevista cedida pela psicóloga Marisa de Abreu sobre  Abuso infantil para o Centro Universitário Monte Serrat - Santos
O OBJETIVO DESTE POST É AJUDAR A INFORMAR SOBRE ESTE ASSUNTO!!


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